segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

FAMÍLIA MATTOS...

Isaac Duarte de Barros Junior*

Muitos conhecidos episódios regionais, inclusive aqueles acontecimentos mais marcantes que aparecem como momentos históricos, passam pela saga vagarosa dos pioneiros sulinos, conduzindo suas carretas, erguendo ranchadas e assim participando da fundação do município de Dourados. Para os historiadores, interessados nesses acontecimentos históricos, obrigatoriamente o sobrenome da tradicional família Mattos, faz com justiça parte desse contexto. Participando, ora como militares voluntários, muitos integrantes da família Mattos foram combatentes na guerra do Paraguai. Depois, na condição de civis idealistas, diversos membros dessa família tradicional, aparecem com destaque nos registros de acontecimentos oficiais de vários fatos ligados à política do antigo Mato Grosso.

Migrantes, carreteando sem pressa na lentidão das estradas carroceiras e pelos boqueirões, foi viajando, partindo da cidade gaúcha de São Luiz Gonzaga, que a família Mattos fixou profícuas raízes na história local, participando exaustivamente da árdua labuta do desbravamento. O gosto inteligente dos Mattos, pela política partidária, começou a partir da nomeação do major Ponciano de Mattos Pereira, para ser o novo intendente provisório (prefeito) da sua terra natal, desagradando o poderoso estancieiro de Cruz Alta, general Pinheiro Machado.

O êxodo dessa família, começou nos pampas gaúchos em 1898, quando se tornou insustentável os diversos atritos políticos que os Mattos Pereira, como ex-militares, mantinham com o senador gaúcho Salvador Pinheiro Machado, figurão da velha república. Essa inimizade era de cunho mortal, castigada às vezes com degola do perdedor, o que levou o chefe do clã, coronel José de Mattos Pereira e sua esposa Inácia, a reunirem os seus familiares e fugirem as pressas para a Argentina. De lá, a numerosa família Mattos seguiu de carreta para o Paraguai, alcançando novamente as terras brasileiras no povoado de Bela Vista. Com a morte do coronel José de Mattos Pereira em 1904, seu filho o major Ponciano de Mattos Pereira assumiu a liderança familiar, sendo nomeado interventor (prefeito) do município de Ponta Porã em 1913.

Em 1915 a modesta Vila de Dourados, sofreria as suas primeiras mudanças. Na presença dos irmãos Ponciano e Bento de Mattos Pereira, o povoado seria elevado à categoria significativa de Distrito de Paz. O tenente Manoel de Mattos Pereira, outro filho do coronel José de Mattos Pereira, por se identificar com a pecuária e agricultura, escolheria para morar, criar o gado e plantar suas lavouras, uma localidade apelidada como a “falha”. Devido existir nesse descampado, a ausência completa de matas. Manoel de Mattos Pereira, foi viver nesse lugar com a esposa Maria Camila em 1912. O lugar, hoje é conhecido como Distrito da Picadinha. Este Mattos, era criador de gado e lavoreiro. Foi o pai de José de Mattos Pereira, douradense ilustre, homônimo de seu avo e de um tio, refiro-me ao inesquecível “coronel Juca”.


Juca de Mattos para os amigos, tornou-se uma personalidade marcante do seu tempo. Comerciante respeitado, pela conduta ilibada foi nomeado Inspetor de Quarteirão, quando militava no partido político “perrengue”, opositor do “urucubaca”. Quando o estado de Mato Grosso, se partiu em dois estados na revolução constitucionalista, apoiando o estado de São Paulo; por um breve período, em 1932 o governador Dr. Vespasiano Martins, o nomeou delegado de policia. Quando os revoltosos foram vencidos pelas tropas legalistas da ditadura de Vargas, acabou o estado dividido. O mesmo aconteceu com todos os cargos. Em 1935, “seu Juca” de Mattos esteve presente na cerimônia, que festejava o nascimento do município de Dourados e integrou o nosso primeiro Conselho Municipal. Inclusive, a sua assinatura está acostada na ata de instalação do município em 1936, juntamente com a de outros participes componentes do Diretório Integrado.


Numa parte desse documento, na ata histórica do ano de 1936, se lê: “foi instalado este Município criado pelo Exmo. Senhor Governador do Estado Doutor Mário Correa da Costa por Decreto nº 30, de 23 de dezembro de 1935”. O coronel Juca de Mattos, tinha uma cópia desse apontamento, hoje arquivado em Cuiabá. Esse senhor marcante da família Mattos, fez parte dos comerciantes pioneiros, fundadores da Associação Comercial e Industrial de Dourados. Suas amizades com políticos de renome nacional, eram de conhecimento público. Entre elas, estavam o General e senador Filinto Muller, ex-presidente do senado, além de ex-governadores e deputados federais. Em 1965, aliando-se ao Senador Filinto e ao deputado Weimar Torres, lançou na região da grande Dourados, um jovem engenheiro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), de nome Pedro Pedrossian. Esse político desconhecido, filho de armênios, venceu o udenista Lúdio Coelho, numa campanha apimentada de insultos e acusações pessoais. Enfim,os Mattos em Dourados e região, teriam muitos outros nomes para se destacar. Aqui, neste meu modesto artigo, lembrei apenas de alguns desbravadores, entre os muitos dessa família pioneira...

* advogado criminalista, jornalista.
e-mail: isane_isane@hotmail.com

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